COMO
MOTIVAR PARA O COMPORTAMENTO SEGURO SEM AMEAÇAR?
Todos nós gostaríamos de mudar nosso comportamento de
forma positiva, eliminar comidas que fazem mal à saúde, eliminar hábitos que
encurtam a nossa vida, e no trabalho nós profissionais que estamos ligados a
segurança do trabalho queremos mudar o comportamento dos trabalhadores,
eliminando o comportamento de risco.
Nesse artigo vou mostrar o resultado de pesquisas que
nos mostram o que nos faz mudar de comportamento. E claro que podemos utilizar
essas estratégias em nosso próprio comportamento e no de terceiros.
O que normalmente fazemos motivar o trabalhador para o
comportamento seguro? Infelizmente na maioria das empresas o que fazemos é, o
ameaçamos!
A mensagem de segurança mais utilizada para ajudar as
pessoas a mudar de comportamento é dizer que se pessoa não se comportar bem ela
terá problemas, assinará uma advertência, ganhará uma suspensão ou demissão por
justa causa. E como diria um desenho de antigamente “e isso é tudo pessoal”.
Desejamos mudar os comportamentos através do medo. Mas
não é para menos, em casa quando fomos criança, na política, na saúde pública,
na segurança pública, tudo é ameaça. Parece que acabamos acreditando que também
na área de SST esse é o único caminho.
Ameaças
tem pouco impacto nos comportamentos
Ameaças em maço de cigarros, por exemplo, não faz as
pessoas pararem de fumar. Um estudo mostrou que após ver essas imagens pela
primeira vez, as imagens se tornaram menos relevantes para os fumantes.
O que estamos dizendo é que aparentemente as imagens
negativas (chocantes) possuem impacto extremamente limitado. Isso foi
comprovado nos estudos de Ruiter & Kok, em 2005, Hammond D, Fong GT,
McDonald PW, et al. Em 2004, e em vários outros.
Porque
será que nós insistimos nas advertências?
Se lembrarmos dos animais, uma resposta comum que ele
terá em caso de medo é ficar imóvel ou fugir. Enfrentar nem tanto…
Aparentemente os humanos fazem a mesma coisa. Se algo
nos assusta, congelamos ou fugimos. Tendemos a nos fechar e eliminar essas
sensações negativas.
Em alguns casos também utilizamos argumentos racionais
do tipo, meu avô fumava e viveu até os 90 anos. Então minha genética é boa eu
não preciso me preocupar com isso. E esse tipo de pensamento acaba nos fazendo
ficar mais resiliente do que antes, como se fosse um efeito boomerang.
Essa imagem abaixo mostra uma coisa bem interessante.
Em cinza o número de vezes em que as pessoas consultaram suas contas, em preto
o valor das ações.
Note que quando o mercado de ações está em alta
(positivo), as pessoas tendem a consultar o valor das ações com alta
frequência, mas quando o mercado está com o valor das ações em baixa, tendem a
não querer vê-las.
Ao tentar motivar para o comportamento seguro,
lembre-se que informações positivas tendem a nos fazer sentir bem. Informações
negativas tendem a nos fazer sentir mal! E por isso as evitamos…
Preferimos
acreditar em coisas positivas – o experimento
Num estudo conduzido por Tali Sharo, foi pedido a
cerca de 100 pessoas que estimassem a probabilidade 80 eventos negativos
diferentes que poderiam acontecer com elas no futuro. Por exemplo, qual a
probabilidade de você sofrer uma perda auditiva no futuro.
Digamos que você acredite que a probabilidade que seja
de 50%. Então digamos que eu mostre o seu chute a dois especialistas. Vamos
pensar que um deles diga “acho que a probabilidade é de menos de 40%”, ou seja,
uma estimativa otimista. Já o outro especialista diz “acho que para alguém como
você é de cerca de 60%. É pior”. Ou seja, uma estimativa pessimista.
O experimento mostra que em casos parecidos como esse
que apresentamos, as pessoas tendem a mudar sua opinião e ficar com a
estimativa mais otimista.
O que significa que se colocar um espelho na frente da
pessoa e dizer você está ficando gordo, você está ficando pior, você está
correndo risco, você pode morrer se continuar executando o trabalho assim. Isso
tudo não funciona. Isso porque o nosso cérebro vai tentar distorcer a mensagem
freneticamente, até que ele consiga convencer o trabalhador que está tudo bem
correr riscos e a culpa o deixará em paz…
Mas e se nós aproveitássemos a forma como nosso
cérebro funciona, para nos ajudar a tomar melhores decisões. Por exemplo, todo
mundo sabe que lá lavar as mãos em hospital é importante.
Um
experimento sobre lavar as mãos
No hospital nos Estados Unidos uma câmera foi
instalada para levantar com que frequência à equipe médica higienizava as mãos,
se eles faziam corretamente antes e depois de entrar no quarto dos pacientes.
A equipe médica sabia que a câmera havia sido
instalada. Contudo apenas 1 em cada 10 lavavam as mãos antes e depois de entrar
no quarto dos pacientes.
E então houve uma intervenção. Instalaram um painel
mostrando o índice de lavagem de mão do turno e o índice da semana, ou seja,
tipo uma avaliação de desempenho. Sempre que lavam as mãos os números apareciam
numa tela.
Imagina o que aconteceu? Bumm. Adesão a lavagem de mão
foi a 90%! E claro, isso é incrível.
A equipe do hospital ficou tão impressionada que
conseguiram replicar o experimento em outra divisão do hospital, e os
resultados foram os mesmos.
Porque
será que essa intervenção funcionou tão bem?
Ela funcionou tão bem porque ao invés de utilizar
advertências, sobre o que poderia acontecer de ruim no futuro, como doenças,
acidentes, penalizações, o experimento contou com três princípios que realmente
motiva a nossa mente é nosso comportamento.
3
- Princípios que motivam o comportamento
Incentivo social: No experimento do hospital as
pessoas podiam ver o índice do turno e o índice da semana. O ser humano se
importa em como é visto pelos seus pares, queremos mostrar que fazemos nosso
melhor, queremos fazer igual ao que os melhores fazem…
O governo britânico na tentativa de aumentar o
percentual pessoas que pagam seus impostos em dia testou três abordagens, na
primeira dela eles ameaçavam de multa quem não pagasse seus impostos em dia, na
segunda abordagem em eles pediram para que as pessoas pagassem seus os impostos
em dia, na terceira abordagem ele simplesmente no aviso de imposto a seguinte
mensagem ” nove em cada 10 pessoas na Grã-Bretanha pagam seus impostos em dia“.
Essa única frase melhorou em 15% adesão desse grupo. A
estimativa é que essa simples frase faça o governo receber 5,6 bilhões de
libras!
Para motivar para o comportamento seguro, enfatizar o
que os outros fazem bem é um incentivo muito forte. Como você tem incentivado
positivamente os trabalhadores da sua empresa?
Recompensa imediata: toda vez que a pessoa lavava as
mãos e via os números aumentarem isso fazia com que a pessoa se sentisse bem.
Isso com o tempo acabou nutrindo um sentimento recompensa antecipada. As
pessoas valorizam absurdamente as recompensas imediatas. É bom fazer uma coisa
sabendo que o resultado será positivo e imediato.
Uma recompensa imediata possui um valor maior do que
uma recompensa tardia ou demorada. Isso não acontece porque nós desprezamos o
nosso futuro, a verdade é que queremos ser felizes, saudáveis e bem-sucedidos
também no futuro, mas o futuro está bem distante! E talvez nem cheguemos lá.
E o pior é que em muitos casos a pessoa se comporta
mal hoje e ainda assim fica bem no futuro. Há pessoas que cuidam da saúde e
mesmo assim morrem cedo, outras que não se cuidam e mesmo assim vivem muito
tempo.
Quantas vezes vemos pessoas que não utilizam os EPI’s
e nem por isso adoecem e se acidentam? Isso torna tão difícil resistir àquela
bebida deliciosa agora, e aquele hambúrguer delicioso agora, em nome de um
futuro saudável, que é de certa forma, incerto.
Estudos mostram que dar recompensas imediatas ajudam
as pessoas a parar de fumar, começar a se exercitar. Podemos criar formas de
recompensas imediatas para fortalecer os comportamentos seguros.
No livro Bringing Out The Best In People (trazendo o
melhor das pessoas), o autor orienta que para trazer o melhor das pessoas, as
consequências pelo trabalho bem feito devem ser positivas, imediatas e certas.
E que devemos evitar as consequências negativas, futuras e incertas.
A imagem acima que foi publicada no livro citado,
mostra a performance da equipe quando a empresa não dá feedback (no feedback) e
quando ela dá feedback, vemos a performance melhorar. Curiosamente quando a
empresa deixa de dar feedback a performance da equipe cai novamente, voltando
aos poucos ao estágio anterior.
Importante lembrar da frase do grande Scott Geller, “O
comportamento não ocorre no vácuo, existe um contexto”. É importante também cuidar
do contexto da tarefa e isso inclui, além do que já foi citado pensar também na
qualidade do maquinário, ferramentas, EPI’s e locais de trabalho, a qualidade
dos treinamentos e demais instruções de segurança, os exemplos dos líderes, dos
pares, a gestão de SST, a conduta dos profissionais de segurança, da CIPA, etc.
Como sua empresa tem dado feedback para os
trabalhadores que ajudam o time de segurança, que cumprem as regras, que
praticam o cuidado ativo, que relatam os acidentes, que fazem uso do direito de
recusa?
Monitoramento de processo: monitoramento eletrônico
fez a equipe médica focar em melhorar o seu desempenho.
Na mesma direção foi a entidade que cuida dos
transportes e estradas de Dubai. Ela colocou emojis, eles estão sendo
utilizados há quase dois anos e que ajudaram a diminuir a média de velocidade
na via.
Premissas
do sistema em Dubai:
1. Chamar atenção de
forma criativa.
2. Simplicidade.
3. Ninguém gosta de ser
reprovado em público.
4. As pessoas gostam de
ser aprovadas em público.
Se quisermos chamar atenção das pessoas, precisamos
enfatizar o processo em vez do lado ruim. Então voltando ao exemplo do cigarro,
talvez a melhor forma de tentar conscientizar seja ao invés de dizer que ele
pode ficar doente dizer algo como “sabe,
se você parar de fumar se sairá melhor nos esportes“.
Enfatizar o lado do progresso e não o lado ruim. Com
tudo o que mostramos aqui fica claro que o medo leva a inércia.
Mas atenção: não estou dizendo que não devemos
comunicar os riscos da atividade ao trabalhador, até porque a NR 01 diz que
devemos informar os riscos da atividade sim! Mas isso não é suficiente, e
normalmente não motiva ao comportamento seguro.
Para motivar para o comportamento seguro, pare e
pense; somente falar sobre riscos, focar em cobrança, ameaças e punições tem
melhorado a segurança do trabalho da sua empresa? Provavelmente não!
O que estamos mostrando aqui é científico, é o que
funciona! E claro que você pode entender, adaptar e aplicar na sua empresa. Se
quiser motivar para o comportamento seguro, eu diria que nesse artigo você tem
ótimas ideias para começar. E se precisar de nossa ajuda, aqui no site há
formas de entrar em contato.
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