quinta-feira, 12 de maio de 2022

 

 

 

 

ACOMPANHAR AS AÇÕES

 

Acompanhar as ações! Certamente que o ritual da investigação não se encerra com a entrega do relatório. A prevenção de ocorrências similares futuras depende da adoção das observações, da implantação das ações recomendadas e da verificação da sua eficácia.

 

Deste modo, um ciclo de investigação pode se estender por longos períodos, dependendo da ocorrência, da sua abrangência, das suas consequências e das ações requeridas para evitar recorrência. Assim sendo, é fundamental a etapa de acompanhamento das ações ilustrada na figura 1

 

Figura 1 – Processo de acompanhar as ações

 

O processo de acompanhamento tem início com o detalhamento das ações recomendadas, na forma de um plano de ações, desdobrando o que precisa ser feito na forma de ações executáveis, indicando os seus responsáveis, definindo o tempo de execução das mesmas na forma de um cronograma e detalhando os recursos necessários para que as ações sejam efetivamente implantadas.

 

O papel primeiro da administração é assegurar os recursos necessários para que o plano de ações seja conduzido.

 

Adicionalmente, é recomendado que auditorias sistemáticas sejam conduzidas para avaliar o andamento, a execução das ações, assim como a avaliação da efetividade das mesmas como meios de prevenção de recorrência de incidentes, uma vez implantadas. Deste modo, o ciclo do ritual da investigação somente é encerrado quando a última ação é concluída e tem a sua efetividade atestada.

 

Sumário do ritual de aprendizado para com o incidente

 

É certo que um ritual completo de uma investigação como apresentados nos 10 artigos, somente faz sentido ocorrer, observando todas as suas etapas, no caso de eventos mais sérios e de consequências maiores. Haverá eventos que não justificam o investimento em tempo e recursos na condução de uma investigação completa. Há eventos em que as causas são claramente conhecidas apenas com uma análise simples; há eventos em que as causas são claramente reconhecidas e que as ações de prevenção são de simples execução; há eventos em que, embora as causas sejam de fácil reconhecimento, as ações necessárias têm mais complexidade e há eventos em que as causas são de difícil identificação, mas que, uma vez identificadas, as ações são de fácil execução.

 

Deste modo, não há por que insistir no uso e aplicação do ritual completo e mais detalhado de investigação com todas as suas etapas para todo e qualquer tipo de ocorrência.

 

Uma forma de considerar este aspecto é definir um critério combinando a facilidade ou dificuldade de identificação das causas com a facilidade ou dificuldade de adotar as ações para evitar a sua recorrência, para escolha da abordagem do ritual de investigação. A figura 2 mostra uma sugestão de como utilizar esta combinação e construir o critério.


Figura 2 – Critério para uso do ritual de investigação

 

Independente da abordagem, o registro do ritual de investigação adotado deve ser feito na forma de um relatório. Naturalmente, no caso da abordagem “Ver e agir” o relatório deve ser bem mais simples e expedito, comparado àquele do ritual completo da investigação.

 

Em qualquer abordagem será necessário descrever o sumário executivo, a justificativa da escolha da abordagem para o ritual da investigação, a sequência de eventos, as consequências, a técnica de investigação adotada, as conclusões e as recomendações. No entanto, dependendo da abordagem selecionada, adotando o critério mostrado na figura 2, as descrições destes elementos, parte do relatório da investigação, vão requer mais ou menos detalhes.

 

O ritual da investigação do incidente é a forma de “aprender com o incidente” individualmente. Para a grande maioria dos eventos classificados como “quase acidentes” a abordagem será a de “Ver e agir”, especialmente quando o potencial de severidade for baixo. Normalmente, poucos eventos são tratados com uma investigação completa. Sabemos que, se atuarmos na base da pirâmide de consequência seja a de Frank Bird, seja a de Heinrich, estaremos aprendendo com os incidentes, não individualmente, mas globalmente, verificando tendências e tratando fatores de causa comuns aos eventos, prevenindo assim a ocorrência de eventos mais sérios.

 

As técnicas e as ferramentas para proporcionar este aprendizado são abordadas são as mais diversas. Uma abordagem dessas técnicas e ferramentas é encontrada no livro Investigação e Análise de Incidentes publicado em 2011. No entanto, para que o uso das técnicas e ferramentas seja incentivado e mesmo facilitado é fundamental que se disponha de um banco de dados sobre os incidentes registrados e suas respectivas investigações.

 


Para que o uso das técnicas e ferramentas seja incentivado e mesmo facilitado é fundamental que se disponha de um banco de dados sobre os incidentes registrados e suas respectivas investigações.

 

Deste modo é possível parametrizar as variáveis que envolvem um incidente e analisá-las de maneira coletiva e mais ampla, de modo que possamos definir ações preventivas para evitar, não somente a ocorrência de eventos similares, mas também atenuar as consequências dos mesmos, caso ocorram.

 

A NBR 14280 pode ser um bom ponto de partida para esta parametrização, pois esta norma apresenta os fatores de causa e outros parâmetros associados ao incidente, já codificados. Em outras palavras, estamos fazendo referência à importância da adoção de um sistema de informações para registro sistemático dos incidentes e suas decorrências, que possa ser utilizado com as características de um banco de dados.

 

É importante lembrar que os incidentes custam caro considerando suas consequências sociais e econômicas. É importante também inaugurar a prática de compartilhamento público dos resultados de investigações, mesmo que entre segmentos específicos, especialmente aqueles que causaram ou tem potencial de causar consequências sérias, de modo a ampliar o aprendizado para com os incidentes, considerando que é o mínimo que se pode fazer, face às consequências sociais e econômicas dos eventos maiores, catastróficos.

 

”os acidentes não acabam nunca… deixam marcas profundas nas vítimas…” haja vista o que aconteceu no incêndio do Edifício Joelma (1974).

 

Citando Michel Llory, autor do livro-texto Acidentes Industriais, publicado em 1999, ”os acidentes não acabam nunca… deixam marcas profundas nas vítimas…” Haja vista o que aconteceu no incêndio do Edifício Joelma (1974), no vazamento de Metilisocianato em Bhopal (1984), no vazamento de gasolina em um oleoduto seguido de incêndio na Vila Socó em Cubatão(1984); no vazamento de radiação em Chernobyl(1986), na explosão da plataforma Piper Alpha(1988), no afundamento da plataforma de petróleo P36(2001), nos desastres aéreos como por exemplo a queda do vôo RG 234(1989), a colisão do vôo G1907(2006), a explosão do vôo TAM 3054(2007), nas explosões de minas de carvão na Polonia (Ruda Slaka – 2009), na Rússia (Kemesovo – 2010) e, mais recentemente, o episódio de desmoronamento na mina San Jose no Chile, que não matou ninguém mas que deixou sequelas significativas que dificilmente serão extintas ao longo do tempo. Em consideração e respeito aos milhões de óbitos e mutilações advindas de incidentes do trabalho no mundo, o mínimo que podemos fazer é “aprender com eles”.

 

No próximo artigo abordaremos a etapa 10, que trata a importância de preservar e controlar os dados de todo o ritual de aprendizado com o incidente de trabalho, encerrando esta sequência de 10 artigos.

 

 

Autor: Reginaldo Pedreira Lapa
Engenheiro de Minas e de Segurança do Trabalho

 

Fonte: Lapa, Reginaldo Pedreira. Investigação e Análise de Incidentes, Editora Edicon, São Paulo, 2011

 

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ELABORAR CONCLUSÕES E

 PROPOR AÇÕES

 

 

A etapa de elaboração de conclusões e proposição de ações, mostrada na figura 1 engloba, não somente o enunciado das ações propostas baseado nas conclusões da análise, mas também define a necessidade de avaliação dos controles propostos e/ou os existentes além da priorização das ações propostas, avaliando seus impactos e benefícios.

 

Figura 1 – Processo de elaborar conclusões e propor ações

 

As conclusões são deduções derivadas dos resultados analíticos da investigação e devem, portanto, ser sustentadas e justificadas pelos fatos coletados, pelos resultados de testes e ensaios e pela análise das evidências na construção do desencadeamento do incidente. A profundidade, a abordagem e a natureza das conclusões devem ser feitas de maneira que qualquer pessoa, mesmo leiga e que não tenha participado da investigação, seja capaz de entender e compreender a sua pertinência aos fatos que conduziram ao incidente.

 

As recomendações podem ser feitas considerando as causas imediatas ou diretas, as causas contribuintes, mas necessariamente devem abordar como prioridade as causas fundamentais, básicas ou causas raiz identificadas, pois serão estas ações que efetivamente, ao serem adotadas, serão capazes e suficientes para prevenir a ocorrência de eventos similares no futuro. As recomendações abordam ações que podem significar a necessidade de alguma mudança, substituição, melhoria ou adição nos controles operacionais associados ao incidente investigado.

 

Os controles são quaisquer dispositivos, sistema, procedimento ou ação sistêmica que contribuem para reduzir o risco de recorrência do incidente. 

 

Os controles em segurança são adotados para se lidar com as condições perigosas no exercício do trabalho, diminuindo o risco de que venham causar uma lesão ou uma doença às pessoas, quando a elas expostas, e devem ser propostos na seguinte prioridade em termos de níveis de ação:

 

·       Eliminar a condição perigosa;

·       Reduzir, substituir as energias envolvidas;

·       Remover as pessoas do contato com a condição perigosa;

·       Reduzir as consequências;

·       Reduzir a probabilidade de ocorrência do evento indesejável;

 

Os controles são classificados segundo uma hierarquia de efetividade, na qual a classe superior de controle é menos dependente do comportamento humano, em contrapartida à maior dependência da classe imediatamente inferior de controle, conforme ilustra a figura 2.

 

Figura 2 – Hierarquia de controles

 

Na hierarquia de efetividade das medidas de controle, a prioridade é eliminar a condição perigosa que resultou no incidente. Eliminar a condição perigosa significa eliminar a energia envolvida que é o agente causador da lesão ou da doença. Não sendo possível eliminar, pode-se pensar em diminuir a energia, representado na figura 2 na classe de substituição. A classe de projeto ou engenharia representada na figura 3 significa isolar as pessoas da energia que é a terceira tentativa de definição de controles. As ações de controle que se seguem têm natureza de advertência e de proteção.

 

Ao enunciar as ações recomendadas esteja seguro de que elas estejam descritas de maneira clara, direta, objetiva, concisa, tangíveis e viáveis de serem executadas e que sejam baseadas nas evidências coletadas, seja de testemunhos, evidências físicas ou mesmo documentais. Evite fazer recomendações vagas e genéricas. Nunca inclua nas recomendações medidas disciplinares ou punitivas a quem quer que seja.

 

A introdução de novos controles e mesmo a alteração de controles existentes podem ser considerados como mudanças. E, em toda e qualquer mudança, sempre precisamos avaliar se a introdução ou a alteração pode agregar condições perigosas, diferentes daquelas existentes, aumentando o risco para as pessoas. Portanto, as ações propostas devem passar por uma análise de risco antes de serem implementadas, pois pode haver a necessidade de melhor avaliar ou introduzir outros controles, em decorrência de condições perigosas novas, introduzidas na condução do trabalho para evitar a recorrência do evento investigado.

 

A análise dos controles propostos pode ser feita de várias maneiras, porém, a efetividade de um controle precisa atender pelo menos três condições:

 


Um sistema de jatos de água pode ser eficaz ou não. A questão chave é: “o controle funcionará adequadamente quando solicitado? ”

 

1 – Funcionalidade: capacidade de a medida de controle reduzir o risco, imaginando que ele funcione como planejado. Por exemplo, um sistema de jatos de água projetado para proteger uma instalação onde se armazena materiais combustíveis em caso de incêndio, instalada no seu interior e acionado por chama ou presença de fumaça pode ser eficaz no caso de o incêndio iniciar dentro do compartimento de armazenamento, mas certamente não será eficaz se o incêndio ocorrer nas proximidades da instalação. A questão chave é: “o controle funcionará adequadamente quando solicitado? ”

 

2 – Confiabilidade: capacidade de funcionamento e disponibilidade de atuação ao longo do tempo, em função da dificuldade de detecção de falhas, de manutenção difícil ou deficiente ou mesmo, se ele pode ser rotineiramente ignorado ou anulado facilmente por razões outras. Por exemplo, os controles bi manuais utilizados em prensas podem não ser confiáveis se eles apresentam defeitos frequentes decorrentes da vibração e se é possível, fácil e aceito colocar um “jump” num deles em caso de defeito, operando apenas com o outro. A questão chave nesta condição é: “o controle estará disponível o tempo todo para cumprir a sua função? ”

 

3 – Sobrevivência: capacidade do controle permanecer intacto e atuante, ser efetivo quando requerido e que não dependa de outro sistema ou mecanismo para funcionar, pois, em caso de falha do sistema do qual ele depende, o controle não atuará ou poderá ter a sua efetividade reduzida. Por exemplo, a proteção de um determinado ambiente contra incêndio é uma parede corta-fogo. Se esta parede puder ser atingida por uma explosão externa a este ambiente, a proteção daquele ambiente contra incêndio perde a sua efetividade, pois a parede pode explodir antes da ocorrência do incêndio. A questão chave nesta condição é “o controle permanece ileso e cumpre a sua função na ocorrência de um evento indesejado?

 

Além da análise de controles propostos para evitar a recorrência do incidente, com base nas causas fundamentais ou causas raiz, pode ser que a análise tenha identificado que algum controle existente falhou ou não cumpriu na íntegra a função dele esperada.

 

Neste caso, é pertinente também que uma análise de efetividade seja conduzida, considerando os controles existentes antes do incidente ocorrer, para identificar que melhorias precisam ser propostas e implementadas para diminuir o risco, melhorando aqueles controles.

 

Por fim, é importante que as ações propostas sejam priorizadas em função da facilidade de execução, o tempo de sua efetiva implementação, a demanda de recursos e a efetividade de proteção proporcionada pelas mesmas.

 

Deste modo as ações propostas podem ser ordenadas por horizonte: curto prazo, médio prazo e longo prazo, sempre considerando os riscos associados à ausência da medida de controle na rotina de trabalho.

 

A literatura apresenta diversas formas de priorização, desde o modelo tradicional denominado G.U.T – Gravidade – Urgência e Tendência, até modelos mais complexos utilizados em planejamento estratégico de negócios. Uma maneira simples de priorizar, pode ser a combinação da avaliação de efetividade com a classe do controle, utilizando a hierarquia de controle e outra variável que representa a exequibilidade, considerando o tempo requerido para execução da ação proposta, a facilidade da sua execução e a demanda de recursos para a implantação da mesma, conforme ilustra a figura 3.

 

Figura 3 – Critério para priorização das ações

 

Neste caso, basta criar uma escala numérica para cada um dos eixos e avaliar cada ação segundo a escala definida. Assim sendo, cada variável terá um ponderador e o produto dos ponderadores produz um número que pode orientar a definição das prioridades, considerando todas as ações propostas e todas as variáveis pertinentes.

 

Em se tratando de um ritual e considerando que as ações do aprendizado para com o incidente devem ser registradas, observe os documentos e registros pertinentes a esta etapa, indicados na figura 1.

 

No próximo artigo abordaremos a etapa 8 do ritual de aprendizado para com o incidente, que é documentar o ritual de aprendizado para com o incidente em todas as etapas.

 

Autor: Reginaldo Pedreira Lapa
Engenheiro de Minas e de Segurança do Trabalho

 

Fonte: Lapa, Reginaldo Pedreira. Investigação e Análise de Incidentes, Editora Edicon, São Paulo, 2011

 

 

 

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