ELABORAR
CONCLUSÕES E
PROPOR AÇÕES
A etapa de elaboração de conclusões e proposição de
ações, mostrada na figura 1 engloba, não somente o enunciado das ações
propostas baseado nas conclusões da análise, mas também define a necessidade de
avaliação dos controles propostos e/ou os existentes além da priorização das
ações propostas, avaliando seus impactos e benefícios.
Figura
1 – Processo de elaborar conclusões e propor ações
As conclusões são deduções derivadas dos resultados
analíticos da investigação e devem, portanto, ser sustentadas e
justificadas pelos fatos coletados, pelos resultados de testes e ensaios e pela
análise das evidências na construção do desencadeamento do incidente. A
profundidade, a abordagem e a natureza das conclusões devem ser feitas de
maneira que qualquer pessoa, mesmo leiga e que não tenha participado da
investigação, seja capaz de entender e compreender a sua pertinência
aos fatos que conduziram ao incidente.
As recomendações podem ser feitas considerando as
causas imediatas ou diretas, as causas contribuintes, mas necessariamente devem
abordar como prioridade as causas fundamentais, básicas ou causas raiz
identificadas, pois serão estas ações que efetivamente, ao serem
adotadas, serão capazes e suficientes para prevenir a ocorrência de
eventos similares no futuro. As recomendações abordam ações que podem
significar a necessidade de alguma mudança, substituição, melhoria ou adição
nos controles operacionais associados ao incidente investigado.
Os controles são quaisquer dispositivos, sistema,
procedimento ou ação sistêmica que contribuem para reduzir o risco de
recorrência do incidente.
Os
controles em segurança são adotados para se lidar com as condições perigosas no
exercício do trabalho, diminuindo o risco de que venham causar uma
lesão ou uma doença às pessoas, quando a elas expostas, e devem ser propostos
na seguinte prioridade em termos de níveis de ação:
· Eliminar
a condição perigosa;
· Reduzir,
substituir as energias envolvidas;
· Remover
as pessoas do contato com a condição perigosa;
· Reduzir
as consequências;
· Reduzir
a probabilidade de ocorrência do evento indesejável;
Os controles são classificados segundo
uma hierarquia de efetividade, na qual a classe superior de controle é
menos dependente do comportamento humano, em contrapartida à maior dependência
da classe imediatamente inferior de controle, conforme ilustra a figura 2.
Figura
2 – Hierarquia de controles
Na hierarquia de efetividade das medidas de
controle, a prioridade é eliminar a condição perigosa que resultou no
incidente. Eliminar a condição perigosa significa eliminar a energia
envolvida que é o agente causador da lesão ou da doença. Não sendo
possível eliminar, pode-se pensar em diminuir a energia, representado na figura
2 na classe de substituição. A classe de projeto ou engenharia representada na
figura 3 significa isolar as pessoas da energia que é a terceira tentativa de
definição de controles. As ações de controle que se seguem têm natureza de
advertência e de proteção.
Ao enunciar as ações recomendadas esteja seguro de que
elas estejam descritas de maneira clara, direta, objetiva, concisa, tangíveis e
viáveis de serem executadas e que sejam baseadas nas evidências coletadas, seja
de testemunhos, evidências físicas ou mesmo documentais. Evite fazer
recomendações vagas e genéricas. Nunca inclua nas recomendações medidas
disciplinares ou punitivas a quem quer que seja.
A introdução de novos controles e mesmo a alteração de
controles existentes podem ser considerados como mudanças. E, em toda e
qualquer mudança, sempre precisamos avaliar se a introdução ou a alteração pode
agregar condições perigosas, diferentes daquelas existentes, aumentando o
risco para as pessoas. Portanto, as ações propostas devem passar por uma
análise de risco antes de serem implementadas, pois pode haver a necessidade de
melhor avaliar ou introduzir outros controles, em decorrência de condições
perigosas novas, introduzidas na condução do trabalho para evitar a
recorrência do evento investigado.
A análise dos controles propostos pode ser feita de
várias maneiras, porém, a efetividade de um controle precisa atender pelo menos
três condições:
Um sistema de jatos de água pode ser eficaz ou não. A
questão chave é: “o controle funcionará
adequadamente quando solicitado? ”
1 – Funcionalidade:
capacidade de a medida de controle reduzir o risco, imaginando que ele funcione
como planejado. Por exemplo, um sistema de jatos de água projetado para
proteger uma instalação onde se armazena materiais combustíveis em caso de
incêndio, instalada no seu interior e acionado por chama ou presença de fumaça
pode ser eficaz no caso de o incêndio iniciar dentro do compartimento de
armazenamento, mas certamente não será eficaz se o incêndio ocorrer nas
proximidades da instalação. A questão chave é: “o controle funcionará
adequadamente quando solicitado? ”
2 – Confiabilidade:
capacidade de funcionamento e disponibilidade de atuação ao longo do tempo, em
função da dificuldade de detecção de falhas, de manutenção difícil ou
deficiente ou mesmo, se ele pode ser rotineiramente ignorado ou anulado
facilmente por razões outras. Por exemplo, os controles bi manuais utilizados
em prensas podem não ser confiáveis se eles apresentam defeitos frequentes
decorrentes da vibração e se é possível, fácil e aceito colocar um
“jump” num deles em caso de defeito, operando apenas com o outro. A
questão chave nesta condição é: “o controle estará disponível o tempo todo para
cumprir a sua função? ”
3 – Sobrevivência:
capacidade do controle permanecer intacto e atuante, ser efetivo quando
requerido e que não dependa de outro sistema ou mecanismo para funcionar, pois,
em caso de falha do sistema do qual ele depende, o controle não atuará ou
poderá ter a sua efetividade reduzida. Por exemplo, a proteção de um
determinado ambiente contra incêndio é uma parede corta-fogo. Se esta parede
puder ser atingida por uma explosão externa a este ambiente, a proteção daquele
ambiente contra incêndio perde a sua efetividade, pois a parede pode explodir
antes da ocorrência do incêndio. A questão chave nesta condição é “o controle
permanece ileso e cumpre a sua função na ocorrência de um evento indesejado?
Além da análise de controles propostos para evitar a
recorrência do incidente, com base nas causas fundamentais ou causas raiz, pode
ser que a análise tenha identificado que algum controle existente
falhou ou não cumpriu na íntegra a função dele esperada.
Neste caso, é pertinente também que uma análise de
efetividade seja conduzida, considerando os controles existentes antes do
incidente ocorrer, para identificar que melhorias precisam ser propostas e
implementadas para diminuir o risco, melhorando aqueles controles.
Por fim, é importante que as ações propostas sejam
priorizadas em função da facilidade de execução, o tempo de sua efetiva
implementação, a demanda de recursos e a efetividade de proteção proporcionada
pelas mesmas.
Deste modo as ações propostas podem ser ordenadas por
horizonte: curto prazo, médio prazo e longo prazo, sempre considerando os
riscos associados à ausência da medida de controle na rotina de trabalho.
A literatura apresenta diversas formas de priorização,
desde o modelo tradicional denominado G.U.T – Gravidade – Urgência e Tendência,
até modelos mais complexos utilizados em planejamento estratégico de negócios.
Uma maneira simples de priorizar, pode ser a combinação da avaliação de
efetividade com a classe do controle, utilizando a hierarquia de
controle e outra variável que representa a exequibilidade, considerando o
tempo requerido para execução da ação proposta, a facilidade da sua execução e
a demanda de recursos para a implantação da mesma, conforme ilustra a figura 3.
Figura
3 – Critério para priorização das ações
Neste caso, basta criar uma escala numérica para cada
um dos eixos e avaliar cada ação segundo a escala definida. Assim sendo, cada
variável terá um ponderador e o produto dos ponderadores produz um número que
pode orientar a definição das prioridades, considerando todas as ações
propostas e todas as variáveis pertinentes.
Em se tratando de um ritual e considerando que as
ações do aprendizado para com o incidente devem ser registradas, observe os
documentos e registros pertinentes a esta etapa, indicados na figura 1.
No próximo artigo abordaremos a etapa 8 do ritual de
aprendizado para com o incidente, que é documentar o ritual de aprendizado
para com o incidente em todas as etapas.
Autor:
Reginaldo Pedreira Lapa
Engenheiro de Minas e de Segurança do Trabalho
Fonte:
Lapa, Reginaldo Pedreira. Investigação e Análise de Incidentes, Editora Edicon,
São Paulo, 2011
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