segunda-feira, 22 de agosto de 2022

 



 

DOCUMENTAR O RITUAL

 



O foco central da etapa de documentar o ritual da investigação, ilustrado na figura 1, é a preparação do relatório da investigação. Este relatório é o documento que registra todo o ritual da investigação em todas as suas etapas: comunicação da ocorrência, ações imediatas adotadas, a constituição do grupo de investigação, o planejamento da investigação, a coleta de dados, a seleção do método de análise a organização dos dados, a análise propriamente dita, descrevendo como o evento ocorreu e quais foram as causas identificadas, as conclusões e as ações propostas devidamente avaliadas e priorizadas.

O relatório será utilizado para transmitir a outras pessoas da organização e, mesmo, partes interessadas externas, quando pertinente, o que aconteceu de fato, em termos descritivos e cronológicos, por que aconteceu, elencando os fatores de causa determinantes e o que pode ser feito para evitar a ocorrência de eventos similares no futuro.

Portanto, o relatório da investigação é o registro oficial da investigação e a qualidade dessa investigação, muitas vezes é avaliada a partir do seu relatório. Ao estruturar e redigir o relatório é importante considerar que os leitores do mesmo não participaram da investigação e pode ser mesmo alguém que não conheça o processo no qual o incidente ocorreu. Portanto, fotografias, desenhos, esquemas, fluxos e outras ilustrações podem ser úteis para a compreensão de ideias e situações que se queira apresentar, além de economizar descrições às vezes enfadonhas e cansativas para a leitura.

Lembre-se que um bom relatório de investigação não é avaliado apenas pelo seu número de páginas.

 

Figura 1 – Processo de documentar o ritual da investigação

 

Até que se obtenha um bom relatório, às vezes é necessário escrevê-lo várias vezes, razão pela qual é recomendável produzir uma minuta do mesmo e revisá-lo tantas vezes quanto for necessário, até que ele esteja pronto para ser apresentado à administração da empresa, a quem cabe aprová-lo formalmente.

Isto significa que a documentação do ritual da investigação é um processo interativo que pode ainda ser melhorado antes da aprovação final da administração. Dependendo da complexidade da investigação e de seus desdobramentos, pode ser útil uma revisão por parte de profissionais da área jurídica da empresa, assim como é essencial uma revisão gramatical, ortográfica e mesmo uma crítica na estrutura, abordagem e diagramação do mesmo.

 

Sabidamente, temos a tendência de nos “viciar” na leitura de algum documento que redigimos e que visitamos várias vezes, o que acontece com o relatório do ritual da investigação. Também é sabido que elaborar um relatório de investigação demanda tempo e dedicação e que, portanto, esta tarefa não pode ser deixada para ser feita na última hora. É preciso incluir no planejamento da investigação a tarefa de redação do relatório. Pensando nisso, sugerimos:

 

·       Definir a estrutura do relatório previamente na fase de planejamento da investigação;

·       Distribuir a tarefa de redação entre os membros do grupo de modo que cada membro tenha a responsabilidade de produzir partes do relatório;

·       Começar a redação assim que possível e nas etapas iniciais do ritual da investigação. Isto ajuda a não se esquecer de registrar fatos relevantes observados;

·       Concentrar em alguém a estruturação do documento, com base nas partes descritas pelos membros e o controle das revisões do documento, de modo a evitar perdas e retrabalho;

·       Assegurar que as descrições de parte do relatório de cada membro sejam compartilhadas com o grupo, pois isso ajuda na uniformização da abordagem e na conexão entre as descrições de cada membro;

·       Planejar a produção de ilustrações, figuras, fluxos e desenhos, pois isso toma tempo e pode atrasar a produção do relatório se esta tarefa for deixada para o final.

·       Atualmente, o meio eletrônico é a ferramenta utilizada para a edição de relatórios. Assim sendo, é fundamental que seja considerada a segurança da informação, mantendo cópias de back-up atualizadas das produções dos textos, desenhos, figuras e ilustrações.

 

Pode ser útil uma revisão por parte de profissionais da área jurídica

de empresa, assim como é essencial uma revisão gramatical e ortográfica.

 

Uma estrutura comum em relatórios de investigação inclui:

 

Um sumário executivo: apresentação de um resumo da investigação não mais longo que uma página, indicando brevemente o que ocorreu, o que poderia ocorrer de mais sério, quais foram as ações imediatas adotadas, o método selecionado para a análise, as causas identificadas, que recomendações foram feitas e que ações foram indicadas com o respectivo resultado da análise de efetividade e de priorização.

 

Justificativa: descrever os motivos que justificam a investigação. Às vezes o evento investigado não teve consequências reais maiores, mas tinha o potencial de ter sido catastrófico e assim merece uma investigação mais profunda. Adicionalmente, pode-se aqui utilizar o potencial de severidade da ocorrência para justificar a investigação.

 

Sequência dos eventos: descreve a sequência cronológica dos eventos evitando os detalhes. Se necessário, detalhes devem ser indexados como anexos.

 

Consequências: apresenta a descrição das consequências do evento as quais podem incluir informações sobre pessoas lesionadas, impacto ambiental, interrupção e perda de produção, custos de reparos ambientais, a perda de produção, de reparos a danos físicos em equipamentos e instalações, referências a despesas médicas, despesas com seguros, custos judiciais, custos trabalhistas etc.

 

O método de investigação e as causas identificadas: justificando a escolha do método de análise selecionado e apresentando as causas imediatas, as contribuintes e as causas fundamentais ou causas raiz devidamente justificadas e fundamentadas pelas evidências coletadas.

 

Conclusões e ações propostas: apresentar as conclusões, as ações de controle propostas devidamente classificadas de acordo com a hierarquia de controle, juntamente com a análise de efetividade e a análise de priorização.

 

Agradecimentos: sempre que existirem fatos que justifiquem, é importante registrar o agradecimento do grupo de investigação, reconhecendo pessoas ou grupos de pessoas que tenham de fato dado contribuição relevante durante o ritual da investigação.

 

Anexos: nos anexos devem ser inseridas informações pertinentes coletadas e que deram suporte à análise e às conclusões como desenhos, fluxos, cálculos, imagens, diagramas de análise de causas, devidamente classificados tais como:

 

Anexo A – Legislação e Padrões de Segurança

Anexo B – Fluxograma do processo

Anexo C – Grupo de Investigação

Anexo D – Lista de evidências físicas

Anexo E – Lista de entrevistas de testemunhas

Anexo F – Lista de evidências documentais

Anexo G – Linha do tempo do evento

Anexo H– Lista de imagens

Anexo I – Diagrama de análise de causas

Anexo J – Outros

 

Uma vez aprovado o relatório o mesmo deve ser enviado para as partes interessadas tanto internas quanto externas, quando pertinente. Nestes casos, algumas organizações têm como prática a produção de edições especificas de relatórios de investigação para públicos específicos, sem perda da informação fundamental do que ocorreu, como ocorreu, quais foram os fatores determinantes da ocorrência, as recomendações e ações definidas para evitar a recorrência ou uma combinação dessas informações de acordo com o propósito e o destinatário.

 

Não é incomum que a etapa de aprovação do relatório seja antecipada por uma apresentação do seu conteúdo com uso de multimídia. Neste caso, a apresentação também precisa ser preparada e ser produzida com objetividade. O sumário do relatório da investigação do incidente pode ser um bom guia para a preparação da apresentação.

 

Invariavelmente, todo incidente tem potencial para nos ensinar lições o que denominamos “aprender com os incidentes”. O primeiro nível de aprendizado é o aprendizado local, isto é, na unidade ou processo no qual o evento indesejado aconteceu. Assim sendo, um sumário das lições aprendidas precisa ser preparado para disseminação local, às vezes regionais ou mesmo abrangendo outras unidades além-continente. Na prática, este aprendizado começa quando o evento acontece, através do comunicado para todas as pessoas do ocorrido e é concluído quando termina o ritual da investigação, comunicando de maneira formal às pessoas da organização as lições aprendidas com a ocorrência, através das conclusões do ritual da investigação do mesmo.

Em se tratando de um ritual e considerando que as ações do aprendizado para com o incidente devem ser registradas, observe os documentos e registros pertinentes a esta etapa, indicados na figura 1.

No próximo artigo abordaremos a etapa 9, a última etapa do ritual de aprendizado para com o incidente, que aborda o acompanhamento das ações propostas para evitar recorrência em termos de execução física e efetividade da ação.

 

Autor: Reginaldo Pedreira Lapa
Engenheiro de Minas e de Segurança do Trabalho

 

Fonte: Lapa, Reginaldo Pedreira. Investigação e Análise de Incidentes, Editora Edicon, São Paulo, 2011

 

 

Gostou do conteúdo? Conte para gente nos comentários e não deixe de compartilhar nas redes sociais. 

 

Siga o Blog e Deixe seu comentário e compartilhe este artigo em suas redes sociais para que mais pessoas se informem sobre o tema.

 

 

 

 


 



 

ELABORAR CONCLUSÕES E PROPOR AÇÕES

 

 

A etapa de elaboração de conclusões e proposição de ações, mostrada na figura 1 engloba, não somente o enunciado das ações propostas baseado nas conclusões da análise, mas também define a necessidade de avaliação dos controles propostos e/ou os existentes além da priorização das ações propostas, avaliando seus impactos e benefícios.

 

Figura 1 – Processo de elaborar conclusões e propor ações

 

As conclusões são deduções derivadas dos resultados analíticos da investigação e devem, portanto, ser sustentadas e justificadas pelos fatos coletados, pelos resultados de testes e ensaios e pela análise das evidências na construção do desencadeamento do incidente. A profundidade, a abordagem e a natureza das conclusões devem ser feitas de maneira que qualquer pessoa, mesmo leiga e que não tenha participado da investigação, seja capaz de entender e compreender a sua pertinência aos fatos que conduziram ao incidente.

As recomendações podem ser feitas considerando as causas imediatas ou diretas, as causas contribuintes, mas necessariamente devem abordar como prioridade as causas fundamentais, básicas ou causas raiz identificadas, pois serão estas ações que efetivamente, ao serem adotadas, serão capazes e suficientes para prevenir a ocorrência de eventos similares no futuro. As recomendações abordam ações que podem significar a necessidade de alguma mudança, substituição, melhoria ou adição nos controles operacionais associados ao incidente investigado.

 

Os controles são quaisquer dispositivos, sistema, procedimento ou ação sistêmica que contribuem para reduzir o risco de recorrência do incidente. Os controles em segurança são adotados para se lidar com as condições perigosas no exercício do trabalho, diminuindo o risco de que venham causar uma lesão ou uma doença às pessoas, quando a elas expostas, e devem ser propostos na seguinte prioridade em termos de níveis de ação:

 

·       Eliminar a condição perigosa;

·       Reduzir, substituir as energias envolvidas;

·       Remover as pessoas do contato com a condição perigosa;

·       Reduzir as consequências;

·       Reduzir a probabilidade de ocorrência do evento indesejável;

 

Os controles são classificados segundo uma hierarquia de efetividade, na qual a classe superior de controle é menos dependente do comportamento humano, em contrapartida à maior dependência da classe imediatamente inferior de controle, conforme ilustra a figura 2.

 

Figura 2 – Hierarquia de controles

 

Na hierarquia de efetividade das medidas de controle, a prioridade é eliminar a condição perigosa que resultou no incidente. Eliminar a condição perigosa significa eliminar a energia envolvida que é o agente causador da lesão ou da doença. Não sendo possível eliminar, pode-se pensar em diminuir a energia, representado na figura 2 na classe de substituição. A classe de projeto ou engenharia representada na figura 3 significa isolar as pessoas da energia que é a terceira tentativa de definição de controles. As ações de controle que se seguem têm natureza de advertência e de proteção.

Ao enunciar as ações recomendadas esteja seguro de que elas estejam descritas de maneira clara, direta, objetiva, concisa, tangíveis e viáveis de serem executadas e que sejam baseadas nas evidências coletadas, seja de testemunhos, evidências físicas ou mesmo documentais. Evite fazer recomendações vagas e genéricas. Nunca inclua nas recomendações medidas disciplinares ou punitivas a quem quer que seja.

A introdução de novos controles e mesmo a alteração de controles existentes podem ser considerados como mudanças. E, em toda e qualquer mudança, sempre precisamos avaliar se a introdução ou a alteração pode agregar condições perigosas, diferentes daquelas existentes, aumentando o risco para as pessoas. Portanto, as ações propostas devem passar por uma análise de risco antes de serem implementadas, pois pode haver a necessidade de melhor avaliar ou introduzir outros controles, em decorrência de condições perigosas novas, introduzidas na condução do trabalho para evitar a recorrência do evento investigado.

 

A análise dos controles propostos pode ser feita de várias maneiras, porém, a efetividade de um controle precisa atender pelo menos três condições:



Um sistema de jatos de água pode ser eficaz ou não. A questão chave é: “o controle funcionará adequadamente quando solicitado? ”

 

1 – Funcionalidade: capacidade de a medida de controle reduzir o risco, imaginando que ele funcione como planejado. Por exemplo, um sistema de jatos de água projetado para proteger uma instalação onde se armazena materiais combustíveis em caso de incêndio, instalada no seu interior e acionado por chama ou presença de fumaça pode ser eficaz no caso de o incêndio iniciar dentro do compartimento de armazenamento, mas certamente não será eficaz se o incêndio ocorrer nas proximidades da instalação. A questão chave é: “o controle funcionará adequadamente quando solicitado? ”

 

2 – Confiabilidade: capacidade de funcionamento e disponibilidade de atuação ao longo do tempo, em função da dificuldade de detecção de falhas, de manutenção difícil ou deficiente ou mesmo, se ele pode ser rotineiramente ignorado ou anulado facilmente por razões outras. Por exemplo, os controles bi manuais utilizados em prensas podem não ser confiáveis se eles apresentam defeitos frequentes decorrentes da vibração e se é possível, fácil e aceito colocar um “jump” num deles em caso de defeito, operando apenas com o outro. A questão chave nesta condição é: “o controle estará disponível o tempo todo para cumprir a sua função? ”

 

3 – Sobrevivência: capacidade de o controle permanecer intacto e atuante, ser efetivo quando requerido e que não dependa de outro sistema ou mecanismo para funcionar, pois, em caso de falha do sistema do qual ele depende, o controle não atuará ou poderá ter a sua efetividade reduzida. Por exemplo, a proteção de um determinado ambiente contra incêndio é uma parede corta-fogo. Se esta parede puder ser atingida por uma explosão externa a este ambiente, a proteção daquele ambiente contra incêndio perde a sua efetividade, pois a parede pode explodir antes da ocorrência do incêndio. A questão chave nesta condição é “o controle permanece ileso e cumpre a sua função na ocorrência de um evento indesejado?

 

Além da análise de controles propostos para evitar a recorrência do incidente, com base nas causas fundamentais ou causas raiz, pode ser que a análise tenha identificado que algum controle existente falhou ou não cumpriu na íntegra a função dele esperada.

Neste caso, é pertinente também que uma análise de efetividade seja conduzida, considerando os controles existentes antes do incidente ocorrer, para identificar que melhorias precisam ser propostas e implementadas para diminuir o risco, melhorando aqueles controles.

Por fim, é importante que as ações propostas sejam priorizadas em função da facilidade de execução, o tempo de sua efetiva implementação, a demanda de recursos e a efetividade de proteção proporcionada pelas mesmas.

Deste modo as ações propostas podem ser ordenadas por horizonte: curto prazo, médio prazo e longo prazo, sempre considerando os riscos associados à ausência da medida de controle na rotina de trabalho.

A literatura apresenta diversas formas de priorização, desde o modelo tradicional denominado G.U.T – Gravidade – Urgência e Tendência, até modelos mais complexos utilizados em planejamento estratégico de negócios. Uma maneira simples de priorizar, pode ser a combinação da avaliação de efetividade com a classe do controle, utilizando a hierarquia de controle e outra variável que representa a exequibilidade, considerando o tempo requerido para execução da ação proposta, a facilidade da sua execução e a demanda de recursos para a implantação da mesma, conforme ilustra a figura 3.

 

Figura 3 – Critério para priorização das ações

 

Neste caso, basta criar uma escala numérica para cada um dos eixos e avaliar cada ação segundo a escala definida. Assim sendo, cada variável terá um ponderador e o produto dos ponderadores produz um número que pode orientar a definição das prioridades, considerando todas as ações propostas e todas as variáveis pertinentes.

Em se tratando de um ritual e considerando que as ações do aprendizado para com o incidente devem ser registradas, observe os documentos e registros pertinentes a esta etapa, indicados na figura 1.

No próximo artigo abordaremos a etapa 8 do ritual de aprendizado para com o incidente, que é documentar o ritual de aprendizado para com o incidente em todas as etapas.

 

Autor: Reginaldo Pedreira Lapa
Engenheiro de Minas e de Segurança do Trabalho

Fonte: Lapa, Reginaldo Pedreira. Investigação e Análise de Incidentes, Editora Edicon, São Paulo, 2011

 

 

Gostou do conteúdo? Conte para gente nos comentários e não deixe de compartilhar nas redes sociais. 

 

Siga o Blog e Deixe seu comentário e compartilhe este artigo em suas redes sociais para que mais pessoas se informem sobre o tema.

 


    COMO ORGANIZAR UM CRONOGRAMA DE VISITAS       Para serviços de manutenção em campo, organizar um cronograma de visitas ajuda n...