SAIBA
MAIS SOBRE OS EFEITOS DA RADIAÇÃO NO CORPO HUMANO
A elevação da classificação do acidente nuclear na
usina de Fukushima Daiichi para o nível sete, o mais alto possível, aumentou a
preocupação com os possíveis efeitos da radioatividade na saúde da população.
Uma zona de evacuação de 20 quilômetros afetando 70
mil pessoas foi estabelecida ao redor da usina nuclear, e está sendo estendida
a outras cinco comunidades fora da delimitação original.
Pessoas vivendo a menos de 30 quilômetros de Fukushima
foram aconselhadas a deixar a área ou a ficar dentro de casa.
Especialistas acreditam que a ação rápida das
autoridades japonesas pode ter minimizado os riscos para a saúde humana, mas há
preocupação com o nível de radiação a que os funcionários da usina foram
expostos e com a possível contaminação de água e alimentos.
Quais
são os efeitos imediatos da exposição à radioatividade?
Exposição a níveis moderados de radiação - acima de um
gray (a medida padrão da dose absorvida pelo corpo) - podem resultar em náusea
e vômitos, seguidos de diarreia, dores de cabeça e febre.
Depois da primeira série de sintomas, pode haver breve
período sem qualquer problema aparente, mas algumas semanas depois, os sintomas
podem voltar ainda mais fortes.
Com níveis mais altos de radiação, todos esses
sintomas podem ser imediatamente aparentes, assim como lesões - possivelmente
fatais - aos órgãos internos.
Normalmente, a exposição a uma dose de quatro grays
mataria cerca de metade dos adultos saudáveis.
Em comparação, o tratamento com radiação contra câncer
geralmente utiliza várias doses entre um e sete grays de cada vez, mas as doses
são altamente controladas e normalmente dirigidas a uma área específica do
corpo.
E
os efeitos de longo prazo?
Câncer é o maior risco de longo prazo. Normalmente
quando as células do corpo atingem sua "data de validade", elas
cometem suicídio. O câncer aparece quando as células perdem esta habilidade e
efetivamente se tornam imortais, continuando a se dividir e se multiplicar de
forma descontrolada.
O corpo tem vários processos para garantir que as
células não se tornem cancerosas, mas os danos causados por exposição à
radiação podem atrapalhar esses processos de controle, fazendo com que o câncer
se torne muito mais provável.
O fracasso em consertar de forma efetiva os danos
causados pela radiação também podem gerar mutações genéticas não apenas
associadas ao câncer, mas que também podem ser passadas para os filhos, levando
a deformidades em futuras gerações. Entre os problemas que podem surgir daí
estão mudanças no tamanho da cabeça e do cérebro, má formação dos olhos,
problemas de crescimento e de aprendizado.
As
crianças são mais vulneráveis a problemas causados pela radioatividade?
Potencialmente sim, porque como elas estão crescendo
mais rapidamente, mais células estão se dividindo, e as chances de mais coisas
darem errado se torna maior.
Após o acidente nuclear em Chernobyl, na Ucrânia, em
1986, a Organização Mundial de Saúde notou um aumento significativo na
incidência de câncer de tireoide em crianças das redondezas.
Isso aconteceu porque materiais radioativos liberados
no acidente continham altos níveis de iodo radioativo, uma substância que se
acumula na tireoide.
Que
risco Fukushima Daichii representa para a população atualmente?
As autoridades japonesas mediram um nível de radiação
de 400 milisieverts por hora na usina. Um sievert é equivalente a um gray, mas
costuma ser usado para medir quantidades menores de radiação e para estimar
riscos de longo prazo.
Há mil milisieverts (mSv) em um sievert e as pessoas
são normalmente expostas a cerca de 2 mSv de radiação por ano por fontes
naturais.
O especialista em radiação da Universidade de
Manchester, na Grã-Bretanha, Richard Wakeford diz que a exposição a uma dose de
400 milisieverts - o equivalente a algo entre 50 e 100 tomografias
computadorizadas - não seria suficiente para causar problemas de saúde
imediatos. O dobro dessa dose seria necessário para causar enjoos.
No entanto, a dose já causaria uma queda na produção
de células vermelhas e provavelmente aumentaria as chances de um câncer fatal
em 2-4%. Normalmente, o risco de ter um câncer fatal durante a toda a vida no
Japão é de 20-25%.
Wakeford frisou que apenas os funcionários que
trabalham na usina de Fukushima teriam sido expostos a essa dose, mas
provavelmente cada um deles teria sido exposto à radiação por curtos períodos
de tempo.
O nível de exposição para a população em geral, mesmo
para quem vivia perto da usina, não deve ter sido tão alta. O risco seria
próximo do zero para quem vive mais longe do local.
Como
as autoridades japonesas podem minimizar os riscos à saúde?
Segundo Wakeford, com a ação rápida das autoridades, a
maioria da população não deve enfrentar problemas sérios de saúde.
Ele diz que nessas circunstâncias, os únicos com risco
de sofrer efeitos mais graves são os funcionários da usina nuclear e dos
serviços de emergência que atuaram no local e foram expostos a altos níveis de
radiação.
A prioridade, além de retirar pessoas de áreas com maior
risco de contaminação, deveria ser evitar que as pessoas comam alimentos
contaminados, de acordo com o especialista.
A distribuição de pílulas de iodo - que impedem a
absorção de iodo radioativo pelo corpo - também ajudaria a minimizar o risco de
câncer de tireoide na população.
Há
indícios de que alimentos foram contaminados?
Sim. O Ministério da Saúde do Japão pediu que alguns
moradores das proximidades da usina parem de beber água encanada depois que
amostras apresentaram altos níveis de iodo radioativo, aproximadamente três
vezes maiores que o nível normal.
Iodo radioativo também foi encontrado no suprimento de
água de Tóquio, em níveis duas vezes maiores que o considerado seguro para
bebês, mas ainda dentro da margem de segurança para adultos.
Níveis elevados de radiação foram detectados em
amostras de leite e espinafre, algumas vezes em localidades distantes da zona
de exclusão de 20 quilômetros ao redor da usina de Fukushima.
No entanto, nada indica que esses níveis de radiação
representem alguma ameaça imediata à saúde humana.
O nível de radioatividade encontrado no espinafre, por
exemplo, se consumido durante um ano, seria equivalente à dose de radiação de
uma única tomografia computadorizada.
O consumo da água contaminada por um ano traria um pequeno
risco adicional de câncer, mas, na prática, nada além do risco trazido pela
exposição aos níveis normais de radiação no ambiente.
E
a contaminação da água do mar?
Níveis de iodo radioativo 131 no mar, próximo à usina
de Fukushima, chegaram a mais de 3 mil vezes o limite legal.
Autoridades japonesas admitiram que a situação é
preocupante, mas afirmaram que não há ameaça imediata à saúde humana. O
especialista em contaminação nuclear Richard Wakeford diz que é necessário
garantir que peixes contaminados não sejam consumidos.
Apesar disso, ele enfatizou que o iodo radioativo será
diluído pelas correntes marinhas e terá praticamente desaparecido em três
meses.
Como
a situação de Fukushima se compara à de Chernobyl?
Apesar de a Comissão de Segurança Nuclear do Japão ter
elevado a classificação do acidente de cinco para sete, o nível máximo e
comparável ao de Chernobyl, autoridades dizem que o vazamento de material
radioativo em Fukushima é hoje de cerca de 10% daquele verificado no desastre
de 1986.
O especialista Gerry Thomas, que estudou os efeitos do
acidente em Chernobyl, diz que é muito improvável que a situação no Japão se
transforme em algo remotamente comparável a Chernobyl.
"Em Chernobyl, você teve uma explosão que deixou
exposto o núcleo do reator, o que significa que havia muita radiação entrando
na atmosfera."
Segundo Thomas, apesar de o desastre de Chernobyl ter
causado muitos casos de câncer, as únicas pessoas afetadas foram as que viviam
perto da usina e que eram jovens na época do desastre.
E
se a situação se agravar?
Se houver uma fusão nuclear ou um grande incêndio na
usina, além de ventos desfavoráveis, especialistas dizem que o material
radioativo poderia chegar até Tóquio, a 241 quilômetros de distância.
No entanto, mesmo em uma situação como esta, o nível
de radiação deve ser baixo e medidas simples, como ficar dentro de casa com as
janelas fechadas, devem ser suficientes para neutralizar o risco.
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