DESORDEM
DE SEGURANÇA? COMO ME LIVRAR DELA?
Existe um movimento grande na direção de remover a
desordem em segurança, o chamado Safety Clutter. Definimos a desordem em
segurança como “o acúmulo de regras,
procedimentos e práticas de segurança que não contribuem para a segurança do
trabalho”.
A desordem de segurança é toda aquela ação e papéis de
segurança que esperamos que os trabalhadores preencham, mas com pouco valor.
Todos aqueles formulários, pastas e arquivos cheios de requisitos que fazem o
trabalhador revirar os olhos e chamar a equipe de segurança de “policial da segurança” – isso é
desordem de segurança.
Além de ser simplesmente irritante, torna-se um
problema organizacional devido ao consumo de tempo e recursos, ao impacto
negativo na cultura organizacional e na comunicação. Você verá que a desordem
de segurança atrapalha até na realização do trabalho com segurança!
Como
chegamos aqui?
Por que as organizações desenvolvem e implementam
procedimentos, regras e requisitos de segurança que não trazem nenhum benefício
para resultados mais seguros? E por que essas regras permanecem em nossas
organizações anos além de sua utilidade?
O
papel nos protegerá
Uma das respostas é a conformidade legal. As
organizações tendem a acreditar que se tiverem muitas regras, procedimentos e
documentos de segurança, todas questões legais estarão cobertas. Se acontecer o
acidente o papel nos protegerá! É claramente um equívoco.
A papelada pode não servir de defesa legal em caso de
acidente quando o papel destoa do que realmente acontece no ambiente de
trabalho. Afinal, em caso de acidente, além do papel a investigação buscará
provas materiais relacionadas ao acidente. A verdade é que papel não salva a
vida de ninguém.
Há casos em que mesmo tendo papel a empresa é
condenada, lembre-se do que está descrito na NR 01, o dever da empresa é
cumprir e fazer cumprir as ações de segurança, não é?
O
papel depois de um evento
A outra resposta por trás da pilha crescente de
manuais de regras, regras de ouro, procedimentos e formulários é que as
organizações adicionam com facilidade novas peças ao sistema.
Cada vez que há um acidente, incidente, reunião,
auditoria ou um novo plano de melhoria de segurança, é provável que seja criada
mais uma, mais uma burocracia de segurança.
Veja
esse relato de um prevencionista:
No ano passado, trabalhamos com uma organização que
realizou mais de 100 investigações de incidentes nos últimos 12 meses. Cada
incidente levou a aproximadamente 10 itens de ação, o que significa que a
partir de um único processo – investigações de incidentes ao longo de um ano –
1000 ações de segurança foram geradas para a equipe.
Mais de 90% dessas ações envolveram o desenvolvimento
ou atualização de procedimentos de segurança, retransmissão de mensagens de
segurança ou retreinamento de pessoal. Esta organização nos procurou porque
estava passando por incidentes repetidos no local de trabalho – sim, todos os
procedimentos e processos desenvolvidos não estavam tornando o trabalho mais
seguro para ninguém.
Por que será que isso acontece? Será que estamos
buscando respostas fáceis para problemas complexos ou desconhecidos?
Criar mais regras e treinar resolve o problema?
É importante lembrar que até os treinamentos de segurança podem ser ineficientes! Quando não há um
entendimento claro do que é preciso fazer para melhorar o contexto de trabalho
o treinamento adiciona pouca coisa.
É fato, as organizações precisam estar em
conformidade. O problema é que as equipes não estão mais conseguindo cuidar
dessa papelada toda.
O excesso de papel não torna o trabalho mais seguro, pode
ao contrário, tornar inseguro. A preocupação com a conformidade no papel pode
fazer com que o trabalhador esqueça de adicionar a segurança na prática. Veja o
que um trabalhador me disse numa reunião de grupo:
Eu tenho muito mais medo de esquecer ou errar o
preenchimento dos formulários de segurança do que esquecer ou errar na
aplicação das medidas de prevenção na prática.
Se eu erro o papel posso tomar uma “não conformidade”
e ser duramente punido, se eu erro a segurança na prática, se eu esqueço de colocar
uma proteção ninguém vê, já que trabalho sozinho.
Por
que isso importa tanto?
Será que sua organização está ciente do dinheiro que
gasta com pessoas preenchendo uma abundância de formulários?
Numa reunião de segurança, um grupo de 15
trabalhadores concordou com a afirmação de um deles que nos disse o seguinte:
Nós gastamos cerca de 70% do tempo preenchendo
papelada de segurança, e apenas o restante trabalhando na prática.
O papel nos faz perder muito tempo que poderíamos
estar aproveitando melhor em alguma atividade prática.
Que coisa, não? A desordem de segurança e todas as
coisas que você adiciona a uma organização em nome da segurança podem ser
prejudiciais ao gerenciamento da própria segurança…
Estudos acadêmicos recentes sobre a identificação e remoção
da desordem de segurança em toda a organização revelaram que a desordem de
segurança tem efeitos negativos reais e mensuráveis na segurança.
A
desordem de segurança pode:
Reduzir o sentimento de dono do trabalhador, em
relação à segurança e as decisões operacionais.
Remover a flexibilidade do trabalhador para adaptar o
trabalho ao contexto do risco e do contexto da tarefa.
Corroer a confiança entre a administração, time de
segurança e a força de trabalho.
Aumentar o conflito de metas entre segurança e
produtividade.
Comprometer a eficácia das ações de segurança na
prática.
O
que posso fazer sobre a desordem de segurança?
Vale lembrar que a desordem de segurança não é
inevitável. Existem medidas que podemos tomar para evitar a pressão de
adicionar processos de segurança inúteis ao sistema.
Comece
a conversar sobre desordem
Converse abertamente sobre a desordem de segurança nas
equipes de gerenciamento e na força de trabalho. Esteja preparado para ter
conversas difíceis.
Ouça quando as pessoas lhe disserem que um documento,
regra ou formulário é besteira. Você precisa ter a mente aberta e ser corajoso.
Sei que é doloroso ouvir uma coisa assim, mas o papel do educador é ter a mente
aberta.
O
silêncio do trabalhador custa caro para a gestão de segurança.
Se o trabalhador não tiver a liberdade para falar
sobre algo que ele sente sobre o trabalho dele, então podemos dizer que a
empresa verdadeiramente ignora as pessoas… Ausência de Segurança Psicológica.
Avalie juntamente com os trabalhadores as regras, planos
e formulários e se pergunte isso realmente contribui para a segurança? Tem alto
impacto ou baixo impacto?
Incentive conversas sobre segurança em todos os níveis
– o que um departamento de segurança considera importante provavelmente será
diferente da experiência dos trabalhadores que executam a tarefa.
Seja curioso. Peça às pessoas que compartilhem suas
experiências honestas de como sentem as práticas de segurança, e se elas estão
sentindo algum impacto real e positivo delas.
Faça
um experimento para remover um pedaço de desordem
Pergunte diretamente às pessoas o que elas gostariam
de começar a fazer, parar de fazer, fazer mais e fazer menos, quando se trata
de atividades de segurança.
Os gerentes devem ser encorajados a perguntar a seus
funcionários: ‘Qual é a coisa menos valiosa que estou pedindo para você fazer
para trabalhar aqui todos os dias? ’
O time de segurança precisa ter coragem de perguntar:
‘Qual é a coisa de segurança que você faz, mas que menos contribui para a
segurança? Qual a prática de segurança mais inútil daqui da empresa, em sua
opinião?
Redefina
o papel do time de segurança na criação de segurança
Quando as pessoas entendem e valorizam uma prática de
segurança, elas a abordam com uma de contribuir em vez de vê-la como um exercício
de manda quem pode, e obedece quem tem juízo.
É preciso pensar na aplicação da segurança dentro do
contexto do trabalho. É preciso levar em conta o trabalho real que o
trabalhador faz, e não apenas o trabalho imaginado.
No trabalho imaginado tudo dá certo. Nunca falta
material, nunca falta tempo, nunca falta mão de obra, nunca falta à ferramenta
adequada. No trabalho imaginado tudo é perfeito! Já no dia a dia de trabalho,
já no trabalho real, há muita coisa “fora do lugar”, e a variável trabalhador é
que mantém as coisas funcionando.
A redução da desordem em segurança torna a segurança
mais prática e menos oneroso. Foi isso, aliás, que fez a rede de supermercado
australiana Woolworths. Ela reduziu a burocracia da segurança e de quebra,
ainda viu os números de acidentes de trabalho cair com o tempo.
O
que fazer agora?
Encarar a desordem de segurança é fundamental para
evitar as chamadas violações obrigatórias. É fundamental para que os
trabalhadores se sintam os donos, ou pelos menos incluídos nas ações de
segurança.
A segurança feita de cima para baixo afasta as
pessoas, acumula peças que não funcionam, e torna a segurança do trabalho uma
coisa negativa.
A pesquisa interna (na empresa) em torno da desordem
de segurança fornecem a empresa e ao time de segurança a visão de como os
trabalhadores e a empresa entendem o papel do time de segurança na criação de
segurança – em oposição à criação de processos de segurança e burocracia.
Comece sendo curioso, e obtendo seu próprio relatório
de desordem de segurança. Mapeie os processos padrão que podem estar criando
desordem de segurança em sua organização. A utilização de pesquisas de opinião
e conversas em grupo podem lhe ajudar com isso.
Esse artigo deu ótimas possibilidades de como lidar
com a desordem em segurança. Se precisa de ajuda com isso é só nos chamar.
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