Erros
na Proteção por Espuma
Neste artigo separamos os erros na Proteção por Espuma
mais comuns em indústrias que armazenam líquidos combustíveis e inflamáveis, a
maioria deles irão prejudicar muito o desempenho do sistema de proteção contra
incêndio, outros irão até ajudar o fogo!
Primeiramente,
vamos relembrar as classes do LGE:
· Classe HC –
para extinção de incêndios em hidrocarbonetos (derivados de petróleo);
· Classe AV –
utilização em aeroportos, para extinção de incêndios em hidrocarbonetos;
· Classe AR –
para extinção de incêndios em solventes polares (exemplo mais comum: álcool).
Para entender mais como identificar a classe do LGE no
seu cenário de risco, recomendo que leia também o artigo Definindo a
Classe do LGE.
Erro
1 – Quantidade de tipos de LGE
A NBR 15511 permite até 7 tipos de LGE (Líquido
Gerador de Espuma), como mostra a tabela abaixo.
NBR
15511 – Tabela 1 – Tipos de LGE
Essa “grande” quantidade de tipos gera uma certa
confusão nos profissionais, que acabam adquirindo o LGE incorreto. Apesar de
ser ocasionada por falta de atenção ou conhecimento técnico na NBR 15511, esse
erro é muito comum.
A normatização apenas de LGE Polivalente (que atende a
mais de uma classe) seria uma possível saída para esse problema.
Erro
2 – LGE incompatível com o cenário de risco
Como mencionado no erro 1, é muito comum encontrar LGE
do Tipo 1 (exclusivo para hidrocarbonetos) protegendo etanol (solvente polar),
ou LGE do Tipo 4 (exclusivo para solvente polar) protegendo tanque de óleo
diesel (hidrocarboneto).
Para entender melhor, a imagem abaixo mostra o método
de combate do LGE para Hidrocarbonetos.
Espuma
atuando em Hidrocarboneto
Conforme o LGE da Classe HC é aplicado, forma-se uma
camada chamada Filme Aquoso que “anda” por cima do combustível e logo acima a
espuma vai atuando por abafamento.
O LGE funciona semelhantemente à um lençol, só que
para o calor.
Como a água não é miscível (não se mistura) em
hidrocarbonetos, ela irá assentar no fundo do reservatório.
Mas, no caso do LGE Classe AR, devido a água ser
miscível com solventes polares, a aplicação de espuma com o Filme Aquoso seria
ineficiente, pois o Etanol iria “comer” toda a solução de espuma aplicada.
Para isso, foi necessário desenvolver uma espuma que
“isole” o contato com a água e não deixe que ela se misture com o líquido em
chamas.
Espuma
atuando em Solvente Polar
De todos os erros na proteção por espuma, esse é o
pior, pois a efetividade do sistema será igual a ZERO, e dependendo da
quantidade de líquidos combustível ou inflamável armazenada, o risco de uma
catástrofe é grande.
Erro
3 – Quantidade de LGE inferior ao Projeto de Incêndio
Incêndio
da Ultracargo em 2015
As normas brasileiras atuais permitem que NÃO se
considere dois ou mais eventos de incêndio em simultâneo, o que já não é o
ideal.
Daí surge outro problema, vamos supor que no projeto
de incêndio esteja especificado que é necessário um suprimento de LGE de 10 mil
litros para combater o incêndio por 30 minutos no pior cenário de risco (sem
ser evento simultâneo).
Quando vamos verificar o tanque ou bombonas de LGE,
constatamos que possuem apenas 6,5 mil litros, que não atende nem ao
mínimo requerido.
“Aqui
a gente aprendeu que muitas vezes o mínimo não serve!”
– Coronel Cassio Roberto Armani se referindo ao incêndio da Ultracargo em 2015,
onde foram consumidos aproximadamente 400 mil litros de LGE.
Outro ponto importante, é que quando o armazenamento é
feito por meio de tanque, ele deve ter um medidor que possibilite saber o seu
volume.
Trecho
da Instrução Técnica 25 do Corpo de Bombeiros de São Paulo
Erro
4 – Mistura de lotes
Constatada a falta de suprimento de LGE do item
anterior, então a empresa decide adquirir o restante, mas daí pode surgir outro
grande problema.
Primeiro temos que saber se o LGE estocado ainda está
em boas condições de uso para poder ser misturado com o novo lote de LGE, até
porque não se mistura laranja boa com laranja podre.
Temos então a necessidade de fazer os Ensaios
Periódicos … que serão destacados no erro 7.
Erro
5 – Ter o LGE, mas não saber qual é o Tipo
Em geral a proteção por espuma é deixada de lado em
empresas, e a maioria delas nunca fizeram um controle do seu suprimento de LGE.
Quando vamos até as bombonas, containers (IBC) ou tanque não temos nenhuma
informação (rótulo) descrevendo qual é o LGE estocado.
Trecho
da Instrução Técnica 25 do Corpo de Bombeiros de São Paulo
Esse é um problema muito sério, já que visualmente não
é tão simples (e nem seguro) identificar o tipo de LGE, e corre um grande risco
de entrarmos no erro 2.
Erro
6 – Adquirir LGE sem certificação
A NBR 15511 que normatiza o LGE foi baseada nas
principais normas do mercado nacional e internacional, como: Petrobras
N-2142, ICAO Doc 9137, MIL-F-24385, NFPA 11 e ISO 7203 para que tivéssemos uma
norma que atendesse todas as necessidades para os sistemas de espuma de baixa
expansão no Brasil.
Mas, ainda temos vários LGE’s comercializados que não
são certificados, outros nem sequer atendem a NBR.
Adquirindo um LGE certificado você garante que
ele já veio testado por laboratório acreditado que garantiu sua capacidade
de extinção e reignição do fogo.
Portanto, busque sempre as melhores condições
comerciais, mas sempre exija material certificado.
Erro
7 – Não fazer Ensaios Periódicos do LGE
Ensaio
de LGE – Tempo de Reignição
O LGE certificado pela NBR 15511, não possui um
prazo de validade estipulado. Mas, é necessária sua validação a cada 12
meses por meio do Ensaio Laboratorial e a cada 36 meses para o
Ensaio de Fogo.
Esses ensaios são necessários para garantir que não
houve contaminação ou deterioração do LGE armazenado, e também garantir que a
sua capacidade de extinção e reignição do fogo se mantiveram intactas ao longo
do tempo.
Para mais detalhes de como são feitos os Ensaios
Periódicos, leia também o artigo Ensaio de LGE (Líquido Gerador de Espuma)
Erro
8 – Ensaio em laboratório não acreditado
Em caso de acidentes, causando danos ao meio ambiente
ou vítimas, o controle periódico de LGE conforme a NBR 15511 é o único
meio de controle legalmente aceito no Brasil.
O relatório de ensaio, para ter valor legal junto às
autoridades e ser aceito em auditorias, deve ser emitido por laboratório
pertencente à RBLE – Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaio, acreditado pela
Cgcre (Coordenação Geral de Acreditação/INMETRO) para o escopo de ensaios de
LGE.
Infelizmente, algumas empresas ainda buscam
fornecedores que não são especializados em Líquido Gerador de Espuma (LGE).
Exemplo disso, é que muitas acabam contratando a
empresa que realiza as manutenções dos extintores e mangueiras de incêndio para
também fazerem os Ensaios Periódicos, mas na maioria das vezes essas empresas
locais nunca fizeram esse trabalho para outros clientes e nem sequer leram a
NBR 15511.
Elas também acabam enviando as amostras de LGE para
laboratórios não acreditados pelo INMETRO, que não terá validade legal
nenhuma em caso de sinistro.
Resumindo, o cliente acabou “comprando gato por
lebre”.
Conclusão
Infelizmente, a maioria das empresas por onde
passo comete no mínimo DOIS desses erros, e o pior, elas não tinham (e às
vezes continuam não tendo) noção nenhuma do risco que elas correm.
A grande maioria das empresas está acostumada a cuidar
da manutenção de extintores e mangueiras (quando cuidam …), só que a proteção
por espuma é deixada de lado, sendo que a espuma é de longe o agente mais
eficiente em líquidos combustíveis e inflamáveis.
Referências
Bibliográficas:
NBR 15511 – Líquido gerador de espuma LGE, de baixa
expansão, para combate a incêndios em combustíveis líquidos
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