DESAFIOS
NA EVOLUÇÃO DOS TECIDOS DE PROTEÇÃO
Desde a criação das primeiras tecnologias, os tecidos
de segurança passaram por grandes evoluções no sentido de atender os requisitos
e necessidades de proteção dos trabalhadores contra os riscos inerentes aos
seus ambientes laborais e de proporcioná-los uma melhor sensação de conforto ao
utilizar uma vestimenta de proteção.
Na década de 1970, no segmento industrial, tecidos de
proteção antichamas passaram a ser comumente utilizados quando empresas
químicas e petroquímicas começaram a implementar programas de vestimentas antichamas.
Estes programas foram implementados para prevenir queimadura causadas por fogo
repentino – fogo intenso e de curta duração provocado por uma reação de
combustão acidental onde exista a presença de substâncias combustíveis e
inflamáveis, podendo gerar temperaturas acima de 1000°C. Nos dias atuais,
vestimentas antichama são amplamente utilizadas por empresas do setor elétrico,
óleo e gás, químicas, petroquímicas, siderúrgicas mineradoras e indústrias em
geral.
O intuito destas vestimentas é proteger os
trabalhadores contra riscos térmicos, provenientes de um incidente de arco
elétrico, fogo repentino ou respingo de metal líquido e projeção de materiais
quentes e/ou incandescentes. As consequências destes incidentes podem ser
queimaduras corporais de segundo e terceiro grau, chegando ao óbito nas
condições mais extremas.
Considerando a gravidade dos riscos e das severas
lesões mencionadas, a utilização de vestimenta antichamas se torna
indispensável. É a última barreira de proteção e garante ao trabalhador tempo
suficiente para escapar de um ambiente em chamas. De acordo com estatísticas
divulgadas pela Occupational Safety and Health Administration (OSHA), a maioria
das lesões envolvendo estas atividades estão associadas à ignição dos tecidos
que não apresentam resistência à chama.
Nos últimos 40 anos, muitos foram os avanços
tecnológicos e as inovações realizadas na indústria de tecidos de proteção com
o objetivo de desenvolver fibras e tecidos de alto desempenho capazes de
proteger os trabalhadores, além de melhorar o bem-estar dos profissionais e
atender exigentes critérios de performance e certificações. Os tecidos de
segurança de alta qualidade ficaram mais leves, confortáveis e menos agressivos
em contato com a pele. Sem comprometer a eficiência em parâmetros importantes
considerados nestes riscos térmicos, como, por exemplo, percentagem de
queimadura corporal, resultado de Arc Thermal Protective Value (ATPV), e
características físico-químicas, quando submetidos a ensaios.
Combinar
performance, conforto e sustentabilidade
A valorização de processos de fabricação e produtos
que impactam positivamente na vida das pessoas e na preservação do planeta.
Os assuntos que envolvem sustentabilidade e
responsabilidade ambiental são um dos temas mais relevantes da atualidade para
todos os segmentos produtivos.
A partir da necessidade de preservar os recursos
naturais para as novas gerações e a implementação de legislações globais mais
rigorosas neste aspecto, empresas e consumidores estão mais ambientalmente
conscientes. Este cenário não é diferente para futuro dos tecidos de proteção e
dos tecidos antichamas.
Práticas sustentáveis agregam valor aos produtos e
ganham espaço e evidência entre os requisitos considerados pelos consumidores
na definição de seus fornecedores.
O grande desafio para os fabricantes de tecidos Flame
Resistant (FR) está em desenvolver e implementar tecnologias na fabricação de
seus produtos que, além de melhorar os requisitos de desempenho, cumpram com a
sua política de sustentabilidade, tendo sempre uma visão em relação aos
impactos ambientais e o consumo dos recursos naturais em seus processos
produtivos. Encontrando soluções ecologicamente adequadas e sustentáveis para
toda a cadeia, desde a concepção e desenvolvimento das fibras até a finalização
do tecido, bem como sendo inovadores e criativos para desenvolver alternativas
na utilização de matérias primas renováveis e biodegradáveis que possam ser
incorporadas na mescla dos tecidos antichamas.
As fibras de celulose, por exemplo, têm base orgânica
e são produzidas a partir da madeira, que é uma matéria prima renovável. São
utilizadas na mescla de tecidos tanto para situações de arco elétrico e fogo
repentino, quanto para situações de respingo de metal líquido, além de outras
aplicações como tecidos para as áreas de combate a incêndio e proteção militar.
A lã é uma das mais antigas alternativas de fibra
sustentável com aplicabilidade no segmento de tecidos de proteção. É
biodegradável, reciclável e tem alta durabilidade e apresenta um bom desempenho
na mescla com outras fibras para proteção contra respingo de metal fundido, com
a característica principal de repelência.
Apesar de não ser um conceito novo e a indústria
têxtil de forma geral estar evoluindo muito na criação de tecidos orgânicos,
biodegradáveis e recicláveis e na utilização sustentável de matérias primas,
combinar estes critérios não é uma tarefa simples para o segmento de tecidos antichamas
em função da complexidade produtiva destes produtos.
Fabricantes inovadores e conscientes investem
fortemente em pesquisa e alta tecnologia para desenvolver tecidos com esta
combinação de características e estão realizando significantes avanços neste
campo, lançando produtos que comprovam que resistência, qualidade e
sustentabilidade podem ser compatíveis.
Ciência e tecnologia para melhorar e proteger a vida
das pessoas e reduzir os impactos ambientais negativos.
Resistência
à chama
Um aspecto que requer atenção de consumidores e
fabricantes é a utilização de produtos químicos responsáveis por promover
característica antichamas aos tecidos.
Os tecidos FR são desenvolvidos a partir de fibras
projetadas ou quimicamente tratadas para serem resistentes à chama. Neste
processo, os químicos podem ser eficientemente adicionados tanto às fibras
naturais quanto às sintéticas. Ou tornam-se antichama através da aplicação de
produtos químicos em seu estágio final como tecido.
Atenção das empresas ao definir a vestimenta utilizada
pelos seus trabalhadores, em avaliar as fibras na composição dos tecidos, os
químicos envolvidos no processo e a metodologia aplicada para dar resistência
antichamas. Ainda existem no mercado tecidos tratados com produtos químicos que
contém substâncias tóxicas e liberam gases contaminados quando entra em
ignição. São prejudiciais tanto para as pessoas quanto para o meio ambiente.
Podem causar sérios problemas de saúde, como alergias de pele, problemas
respiratórios, problemas hepáticos, entre outros.
Fabricantes de tecido de alto desempenho, por sua vez,
concentram esforços em utilizar produtos químicos com baixo índice de
toxicidade, encontrar alternativas para reduzir a utilização de químicos no
processo e garantir que o descarte dos resíduos não agrida o meio ambiente.
Reciclagem
Desenvolvida há mais de 30 anos, uma das bem-sucedidas
inovações tecnológicas sustentáveis do setor é a utilização de fios produzidos
a partir de garrafas plásticas recicladas na composição de poliéster. Além de
consumir garrafas PET que seriam descartadas no meio ambiente, a produção de
poliéster reciclado reduz o gasto de energia em 70% se comparado com o consumo
do processo de fabricação original, e elimina o uso do petróleo que é base para
a fabricação de fibras virgens. Assim, evita-se o uso de matéria prima não
renovável e que causa danos ao meio ambiente em seu processo de extração.
Economia
Circular
Tão importante quanto utilizar matérias primas
renováveis e recicláveis é implementar metodologias de fabricação sustentáveis
e reduzir o desperdício.
Um exemplo é a aplicação do conceito e certificação
Cradle to Cradle, ou berço ao berço, na indústria de tecidos e fibras de
proteção FR.
Mundialmente reconhecido e utilizado predominantemente
por empresas e organizações dos Estados Unidos, Europa e China, o modelo prevê
a não geração de resíduos, a utilização de fontes de energia renováveis e a
reutilização de matérias primas que voltam para o ciclo de fabricação de forma
infinita, além da eliminação do desperdício e do acúmulo de lixo.
Trata diretamente os três desafios globais de
sustentabilidade: alterações climáticas, escassez de recursos e toxicidade em
materiais.
A
certificação considera a aderência das empresas aos cinco critérios:
Ø Tratamento
do material (todos os produtos químicos envolvidos no produto devem ser ótimos
ou toleráveis);
Ø Reutilização
de Materiais;
Ø Uso
de Energia Renovável;
Ø Gerenciamento
de Água;
Ø Responsabilidade
Social;
Tecidos
inteligentes e multifuncionais
Em suma, tecidos inteligentes são definidos como
tecidos capazes de sentir e responder as mudanças do ambiente com o objetivo de
proporcionar maior conforto e eficiência.
São
classificados em três categorias de acordo com a funcionalidade:
Ø Tecidos Inteligentes Passivo:
são a primeira geração de tecidos inteligentes, capazes de sentir as condições
do ambiente, mas não de reagir a elas.
Ø Tecidos inteligentes Ativos: as
segundas gerações de tecidos inteligentes combinam as duas funções: detectam
sinais do ambiente através de sensores ou de uma unidade de controle. São
tecidos com memória e termorreguladores, bem como são resistentes à água, mas
permeiam vapor e umidade corporal.
Ø Tecidos Ultra Inteligentes:
são a terceira geração de tecidos inteligentes e tem a capacidade de perceber,
reagir e se auto adaptar às reações do ambiente.
Apesar de a indústria têxtil estar bastante avançada
no desenvolvimento de tecnologias e aplicação do conceito de tecidos
inteligentes, estes ainda não são utilizados na fabricação de tecidos antichamas.
Mais uma vez, em função da complexidade envolvida no processo e na combinação
de características necessárias para construir um produto resistente à chama.
No entanto, considerando a evolução dos tecidos de
proteção e os esforços em inovações tecnológicas no segmento de tecidos FR, não
devemos estar tão distantes do momento em que tecidos antichamas também serão
inteligentes e multifuncionais.
No futuro, quando estas tecnologias forem aplicadas,
os tecidos antichamas irão não apenas proteger as pessoas contra os riscos de
exposição ao calor e à chama, mas também melhorarão a performance no ambiente
de trabalho, incorporando funcionalidades como regulagem de temperatura
corporal, melhora da irrespirabilidade, flexibilidade e controle de umidade.
Estamos vivenciando uma nova era de inovações
tecnológicas na indústria têxtil, com o lançamento de fibras modernas,
ecológicas, com bases orgânicas e sintéticos de alto desempenho. Os tecidos antichamas
caminham na mesma direção através de inesgotáveis estudos para o
desenvolvimento de fibras e tecnologias que podem reinventar este mercado.
*Gabriela Azi – Especialista em tecidos e vestimentas
de segurança. Graduada em Administração de Empresas pela Ulbra e MBA em Gestão
de Vendas pela FGV
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