COMO
FAZER A PONTE ENTRE OPERAÇÃO E ESTRATÉGIA NA SUA INDÚSTRIA USANDO A GESTÃO
BASEADA EM ATIVIDADES
Objetivo de desempenho, indicadores e como o PPCP pode
trazer resultados para a sua indústria, mesclei a prática da aplicação de
indicadores e os conceitos dos 5 objetivos clássicos de custos, qualidade,
confiabilidade, velocidade e flexibilidade. Fiz isso para mostrar a importância
de relacionar a operação e a estratégia na sua indústria.
Na história recente, aquele é o nosso post com o maior
número de acessos e por isso acho que vale muito a pena reforçar este tema. No
post de hoje, vou trazer um conceito muito interessante a partir de adaptações
de uma seção da minha dissertação de mestrado. Trata-se do conceito de gestão
baseada em atividades. Acho que ele vai ajudar você a construir essa ponte para
ligar o operacional ao estratégico na sua indústria.
O
que é a gestão baseada em atividades
Tom Pryor define em seu livro Using activity based
management for continuous improvement que o processo de gestão baseada em
atividades (ABM – Activity Based Management) corresponde ao planejamento,
melhoria e controle das atividades de uma organização para atender a
clientes e a requerimentos externos. Aqui, a criação de valor para os clientes
e de lucro para os acionistas são os principais objetivos de um negócio e, para
alcançá-los, o valor esperado deve ser associado à utilização racional de
recursos.
Alinhamento
do modelo de negócios com as expectativas do seu cliente
Para oferecer ao cliente o que ele espera, é
primordial que a organização conheça suas preferências e as opções encontradas
em concorrentes para assumir uma posição competitiva viável. Desta forma, a
definição dos produtos a serem vendidos – cada vez mais uma combinação entre
bens e serviços – deve guiar a configuração do modelo de negócio da empresa,
incluindo seus processos de negócio, suporte e gestão. O alinhamento entre o
que está sendo buscado pelos clientes e o modelo de negócio da empresa ajuda a
garantir a eficácia de seus processos, ou seja, a empresa oferece o que o
cliente quer.
Além disso, esses processos devem ser habilitados por
infraestrutura que inclui instalações, equipamentos, materiais, capital,
tecnologia sistemas, pessoas e procedimentos. A disponibilização dessa
infraestrutura se traduz no consumo de recursos, que deve ser racional, pois
representa custos para a organização. Quanto menos recursos forem consumidos
para ofertar um determinado produto (ou a carteira de produtos), mais eficiente
é organização.
Portanto, de acordo com os princípios do ABM, para ser
eficaz e eficiente, as atividades devem ser gerenciadas levando-se em conta
aspectos de diferenciação e de custo, respectivamente. Com isto é possível
fazer uma ligação entre a gestão baseada em atividades e a análise estratégica,
em que aspetos de custos e de diferenciação podem determinar a vantagem
competitiva de uma organização.
O
que é a vantagem competitiva
Em seu livro Competitive advantage, Michael Porter
mostra que a vantagem competitiva surge da diferença entre o valor que a
empresa cria para seus clientes e o custo que ela tem para criá-lo. Obviamente,
quanto maior essa diferença, maior sua vantagem competitiva. As citações a
seguir retratam algumas das ideias deste autor:
“As
empresas em geral podem adotar três tipos de estratégia competitiva: estratégia
de liderança em custos, estratégia de diferenciação e estratégia de foco. A
primeira visa obter vantagens competitivas pela oferta de produtos e serviços
(em geral padronizados) a custos mais baixos do que os concorrentes. A segunda
busca alcançar vantagens pela introdução de um ou mais elementos de
diferenciação nos produtos e serviços, que justifiquem preços mais elevados. E
o terceiro tipo de estratégia (foco) objetiva obter vantagens competitivas ou
pela oferta de produtos e serviços com menores custos, ou pela diferenciação
dos mesmos, mas em um segmento de mercado mais localizado ou restrito. ”
“A
estratégia competitiva visa estabelecer uma posição lucrativa e sustentável
contra as forças que determinam a competição industrial. A estratégia competitiva
de uma empresa será desdobrada em geral em estratégias funcionais como as
estratégias de marketing, de produção, financeira e tecnológica, buscando-se
compor um todo coeso e harmônico de planos e ações que propiciem a aquisição de
vantagens competitivas pela melhoria dos processos de negócios ou de elementos
na “cadeia de valor” da empresa. ”
“O
desafio enfrentado pela gerência consiste em escolher ou criar um contexto
ambiental em que as competências e recursos da empresa possam produzir
vantagens competitivas. ”
O
papel da internet na formação do novo consumidor
O fim da década de 1990 e o início da década passada
marcaram a revolução da informação com a massificação do acesso à Internet.
Esta era cria um contexto em que é importantíssimo para as organizações
perceberem que é cada vez mais necessário rapidamente desenvolver e colocar no
mercado produtos que atendam aos anseios de seus clientes a preços
competitivos.
Neste contexto, na maioria dos mercados já não é mais
possível escolher entre custo e diferenciação – é preciso combinar ambos, e os
novos produtos devem entrar logo nas carteiras de produção e venda das
organizações de forma a torná-las mais lucrativas.
Para tanto, informações relevantes sobre custo e
utilização de capacidade são vitais para o gerenciamento de uma organização. A
análise estratégica reconhece que para se determinar a posição competitiva de
uma empresa em um determinado mercado é preciso considerar custo e
diferenciação, ao invés de custo ou diferenciação. É importante considerar como
essas duas variáveis estão relacionadas.
Um
exemplo clássico e ao mesmo tempo atual
Seguindo o raciocínio apresentado, na grande maioria
dos casos não é mais aceitável o fato de que para aumentar a diferenciação é
imperioso que os custos aumentem. Isto significa que todas as áreas da sua
indústria devem interagir e buscar formas de ter produtos diferenciados e ao
mesmo tempo ter custos mais competitivos.
Por exemplo, desde os anos 1970 e 1980 fabricantes
japoneses constataram que reduzindo o índice de defeitos poderiam fazer
produtos de qualidade superior a um custo menor, ou seja, produtos com mais
diferenciação e com menor custo. Com isso, mesmo na conjuntura de crise
financeira atual no Brasil, as montadoras japonesas são as que estão enfrentando
menos turbulências, como você pode conferir na excelente matéria da Folha
publicada há duas semanas: Montadoras com produção enxuta escapam da crise e
investem.
O
elo entre operação e estratégia
Esta filosofia, que está sendo discutida neste post,
requer a compreensão do modelo de negócios da organização e a implantação de um
sistema de custeio moderno, como por exemplo o que mencionei no post em que
falo sobre 3 princípios do ABC. A partir daí a dimensão de diferenciação deve
ser analisada ao se estudar a contribuição das atividades em reforçar os
atributos competitivos da empresa.
Um
esquema com as aplicações do ABM
Quando se começa a pensar nesses termos,
frequentemente descobre-se que uma considerável parte do trabalho realizado não
gera valor. Por outro lado, atividades que deveriam ser geradoras de valor
podem estar sendo mal desempenhadas e não cumprindo com seu propósito.
Finalmente, novas fontes de diferenciação podem ser criadas, através da
execução de novas atividades que estejam alinhadas com o posicionamento
competitivo da organização.
Um esquema com as aplicações do ABM é apresentado na
figura a seguir. O primeiro nível subdivide as aplicações entre estratégicas e
operacionais. Tanto em nível estratégico quanto operacional é possível analisar
cenários através de decisões calculadas, ou descobrir falhas na arquitetura e
desempenho do modelo de negócios. A utilização de análise de cenários habilita
tanto a tomada de decisão como descobertas de falhas neste modelo de negócios,
possibilitando a melhoria contínua dos processos produtivos da empresa.
Fonte:
Adaptação de COKINS, Gary.
Aplicações
estratégicas do ABM
Os objetos finais de custeio são o que a empresa faz e
como e para quem ela vende – produtos (bens e serviços), clientes, mercados,
canais de comercialização etc. As características dos bens e serviços
oferecidos devem estar alinhadas com as expectativas do mercado e dos clientes.
Os canais de comercialização são o meio pelo qual os produtos são oferecidos a
esses clientes.
Os processos empresariais e atividades devem ser
desempenhados visando atender seus objetos finais de custeio, isto é, os
objetivos das atividades devem estar alinhados com os objetivos estratégicos da
organização.
Com isso, pode-se chegar à dimensão da eficácia dos
processos empresariais, analisando se a organização está fazendo a coisa certa.
Para saber se a organização está sendo eficaz, é preciso saber por que cada
atividade está sendo realizada.
Aplicações
operacionais do ABM
A execução das atividades é habilitada por uma
infraestrutura de recursos: procedimentos, documentos, pessoas, espaço,
equipamentos etc. Esses recursos devem habilitar a execução das atividades
exigidas pelas demandas estratégicas. Por outro lado, o consumo desses recursos
se traduz em custo para organização, portanto é preciso que sua utilização seja
feita de maneira racional.
Essa é a dimensão da eficiência dos processos
empresariais, que envolve uma avaliação de se a organização está fazendo as
coisas de maneira certa. Para saber se a organização está sendo eficiente, é
preciso saber como cada atividade está sendo realizada.
Tomada
de decisão calculada
Em quaisquer níveis hierárquicos nos ambientes de
negócios há decisões a serem tomadas. É comum a pessoa responsável pelas tomadas
de decisões se deparar com situações em que há duas opções: projetar ou não o
produto, aceitar ou não a encomenda, modificar ou manter os preços etc.
O ABM permite cálculos que apoiam a tomada de decisão
nas situações desse tipo, em que há duas respostas possíveis, sim ou não. Neste
sentido, um bom que habilite a implantação do ABM é primordial, pois apoia
diversos tipos de decisões calculadas. Sempre é bom lembrar o que em seus
módulos de custos e de programação fina permite uma série de decisões que certamente
seriam muito mais difíceis, e arriscadas, sem o seu apoio.
Descobertas
e melhoria contínua
As informações geradas por um sistema de informação
gerencial devem ser capazes de apontar a lucratividade de clientes e produtos.
Com isso a organização pode focar nos produtos e clientes que prejudicam sua
lucratividade, compreendendo as causas e procurando reverter essa situação.
Mas compreender as causas dos lucros ou dos prejuízos
não é o principal. A melhoria contínua é a aplicação mais valiosa do ABM. Para
isso, o sistema deve permitir a identificação dos processos empresariais e
atividades que necessitam de melhorias e, com isso, levar a soluções
efetivas. Uma analogia comumente utilizada é a medicina: o sistema ABM
deve apoiar o diagnóstico dos problemas e suas causas, habilitando o tratamento
correto.
É comum descobrir atividades redundantes ou que
simplesmente não geram valor. Atividades que geram valor para o negócio devem
ser analisadas comparando-se nível de valor gerado com o custo consumido.
Você
sabe aonde quer chegar? Como vai chegar lá?
Eu sou muito suspeito para falar da gestão baseada em
atividades, pois sou seu fã há mais de 13 anos. Com a evolução dos sistemas de
informação, os conceitos apresentados neste post estão cada vez mais próximos
das indústrias brasileiras, inclusive das micro e pequenas indústrias que
muitas vezes tem donos que acreditam que esses conceitos só podem ser aplicados
nas grandes empresas.
Seja você dono de um micro indústria, ou gestor de uma
indústria de maior porte, pode ter certeza que é possível obter resultados
fantásticos a partir da construção da ponte entre as operações e a estratégia.
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